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4 de novembro de 2012

On domingo, novembro 04, 2012 by Pe. Lucione Queiroz   Sem comentário

O olhar do teólogo
Que é ser santo hoje?
J. B. Libanio
Jornal de Opinião – abril de 2004
                   A pergunta sugere duas possibilidades de resposta. Existem os santos canonizados que se tornam conhecidos por nós por meio da proclamação oficial da Igreja. Ela criou um longo processo para canonizar alguém. Como todo percurso, ele tem prazos, exigências jurídicas, aprovações ou reprovações dos testemunhos. Deixarei de lado esse aspecto, por ser mais formal e externo. Ele supõe o mais importante, a saber, a santidade pessoal do candidato à canonização. No caso do P. Eustáquio, ainda não se trata de proclamá-lo santo. O processo está num estágio anterior. Ele está preste a ser beatificado. Uma pequena diferença: o santo é apresentado ao culto de toda a Igreja, o beato a uma região; o santo empenha mais seriamente o poder e o carisma de verdade da Igreja.
                   Mas a pergunta tem outra estrada a ser trilhada. Ela não se restringe somente aos que estão arrolados em processos de beatificação e canonização, mas vale de todo cristão. Um belo capítulo da Constituição dogmática sobre a Igreja do Concílio Vaticano II é dedicado à vocação universal à santidade na Igreja, isto é, de todo fiel. “Todos na Igreja, quer pertençam à hierarquia , quer sejam dirigidos por ela, são chamados à santidade” (LG n. 39. Então que é ser santo?
                   São Paulo não receia chamar os fiéis de suas comunidades de santos. Ele julgava que eles viviam a vida cristã com autenticidade e por isso eram santos, apesar de não desconhecer falhas e pecados nessas mesmas comunidades. Temos em suas cartas essas duas afirmações que não se excluem. O pecado não impede de caminharmos nas vias da santidade, desde que nos arrependamos dele, nos convertamos continuamente. Isto é já ser santo. Como ele mesmo escreve: “A vontade de Deus é esta: a vossa santificação” (1Ts 4,3).
                   A prática de Jesus com as pessoas serve de indicativo de que tipo de santidade ele pedia. Quando ele se deparou com o jovem rico, que tinha cumprido os mandamentos da Lei desde sua infância, Jesus lhe propõe o passo seguinte da renúncia dos bens e do seguimento. Ser santo para ele seria ter dado esse passo. Diz o evangelho que se foi triste. Deixou a carruagem da história passar. Perdeu uma ocasião de ser santo. Não sabemos de seu futuro. Porque Deus não passa uma só vez na vida. Continua chamando. Deixemo-lo nesse momento de perda.
                   A outros que provavelmente não eram tão bons como o jovem rico e vinham de uma vida de pecado, Jesus propõe simplesmente: “Vai em paz e não peques mais”. Abriu-se para a adúltera o caminho da santidade. A samaritana, que andava envolvida com tantos maridos, Jesus se revela como messias e a faz missionária entre os de seu povo. Enfim, Jesus toma a pessoa onde está e propõe um passo à frente. Então o caminho da santidade é nunca estarmos satisfeitos com o estado em que nos encontramos, mas avançar um pouco. Nunca determo-nos, nunca pensarmos ter já alcançado a meta.
                   Do início do cristianismo, temos uma jóia literária chamada Carta a Diogneto. Nela o autor desconhecido, responde a pergunta: que tem o cristão que o faz diferente dos outros? Seria a mesma coisa que dizer: que coisa significa a santidade do cristão? Responde de maneira singela. Ele faz as coisas que todo mundo faz, mas diferentemente. Tem um “mais”, um “excesso”  que é não quantitativo, mas qualitativo. Em termos de hoje, diria: Ele vê TV, dirige automóvel, estuda nas escolas e universidades, trabalha nas firmas, mas não da mesma maneira que os outros. Tem algo na conduta, no brilho do olhar, na bondade do gesto, na pureza do agir, na liberdade, na gratuidade que o faz distinto. Isso é ser santo.

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