14 de julho de 2013
On domingo, julho 14, 2013 by Pe. Lucione Queiroz
cont... SEGUNDA PARTE
16. A virgindade e o celibato pelo Reino de
Deus não só não contradizem a dignidade do matrimônio, mas a pressupõem e
confirmam. O matrimônio e a virgindade são os dois modos de exprimir e de viver
o único Mistério da Aliança de Deus com o seu povo. Quando não se tem apreço
pelo matrimônio, não tem lugar a virgindade consagrada; quando a sexualidade
humana não é considerada um grande valor dado pelo Criador, perde significado a
renúncia pelo Reino dos Céus.
Jesus
Cristo, esposo da Igreja, e o sacramento do matrimônio
13.A comunhão
entre Deus e os homens encontra o seu definitivo cumprimento em Jesus Cristo , o
Esposo que ama e se doa como Salvador da humanidade, unindo-a a Si como seu
corpo.
Ele revela a
verdade originária do matrimônio, a verdade do «princípio»(27) e, libertando o homem da dureza do
seu coração, torna-o capaz de a realizar inteiramente.
Esta revelação
chega à sua definitiva plenitude no dom do amor que o Verbo de Deus faz à
humanidade, assumindo a natureza humana, e no sacrifício que Jesus Cristo faz
de si mesmo sobre a cruz pela sua Esposa, a Igreja. Neste sacrifício
descobre-se inteiramente aquele desígnio que Deus imprimiu na humanidade do
homem e da mulher, desde a sua criação(28); o matrimônio dos baptizados
torna-se assim o símbolo real da Nova e Eterna Aliança, decretada no Sangue de
Cristo. O Espírito, que o Senhor infunde, doa um coração novo e torna o homem e
a mulher capazes de se amarem, como Cristo nos amou. O amor conjugal atinge
aquela plenitude para a qual está interiormente ordenado: a caridade conjugal,
que é o modo próprio e específico com que os esposos participam e são chamados
a viver a mesma caridade de Cristo que se doa sobre a Cruz.
Numa página
merecidamente famosa, Tertuliano exprimia bem a grandeza e a beleza desta vida
conjugal em Cristo: «Donde me será dado expor a felicidade do matrimônio unido
pela Igreja, confirmado pela oblação eucarística, selado pela bênção, que os
anjos anunciam e o Pai ratifica? ... Qual jugo aquele de dois fiéis numa única
esperança, numa única observância, numa única servidão! São irmãos e servem
conjuntamente sem divisão quanto ao espírito, quanto à carne. Mais, são
verdadeiramente dois numa só carne e donde a carne é única, único é o espírito»(29).
Acolhendo e
meditando fielmente a Palavra de Deus, a Igreja tem solenemente ensinado e
ensina que o matrimônio dos baptizados é um dos sete sacramentos da Nova
Aliança(30).
De fato,
mediante o Batismo, o homem e a mulher estão definitivamente inseridos na Nova
e Eterna Aliança, na Aliança nupcial de Cristo com a Igreja. E é em razão desta
indestrutível inserção que a íntima comunidade de vida e de amor conjugal,
fundada pelo Criador(31), é elevada e assumida pela caridade
nupcial de Cristo, sustentada e enriquecida pela sua força redentora.
Em virtude da
sacramentalidade do seu matrimônio, os esposos estão vinculados um ao outro da
maneira mais profundamente indissolúvel. A sua pertença recíproca é a
representação real, através do sinal sacramental, da mesma relação de Cristo
com a Igreja.
Os esposos são
portanto para a Igreja o chamamento permanente daquilo que aconteceu sobre a
Cruz; são um para o outro, e para os filhos, testemunhas da salvação da qual o
sacramento os faz participar. Deste acontecimento de salvação, o matrimônio
como cada sacramento, é memorial, actualização e profecia: «Enquanto memorial,
o sacramento dá-lhes a graça e o dever de recordar as grandes obras de Deus e
de as testemunhar aos filhos; enquanto actualização, dá-lhes a graça e o dever
de realizar no presente, um para com o outro e para com os filhos, as
exigências de um amor que perdoa e que redime; enquanto profecia dá-lhes a
graça e o dever de viver e de testemunhar a esperança do futuro encontro com
Cristo»(32).
Como cada um dos
sete sacramentos, também o matrimônio é um símbolo real do acontecimento da
salvação, mas de um modo próprio. «Os esposos participam nele enquanto esposos,
a dois como casal, a tal ponto que o efeito primeiro e imediato do matrimônio (res
et sacramentum) não é a graça sacramental propriamente, mas o
vínculo conjugal cristão, uma comunhão a dois tipicamente cristã porque
representa o mistério da Encarnação de Cristo e o seu Mistério de Aliança. E o
conteúdo da participação na vida de Cristo é também específico: o amor conjugal
comporta uma totalidade na qual entram todos os componentes da pessoa - chamada
do corpo e do instinto, força do sentimento e da afectividade, aspiração do
espírito e da vontade - ; o amor conjugal dirige-se a uma unidade profundamente
pessoal, aquela que, para além da união numa só carne, não conduz senão a um só
coração e a uma só alma; ele exige a indissolubilidade e a fidelidade da doação
recíproca definitiva e abre-se à fecundidade (cfr. Encíclica Humanae Vitae, n. 9). Numa palavra,
trata-se de características normais do amor conjugal natural, mas com um
significado novo que não só as purifica e as consolida, mas eleva-as a ponto de
as tornar a expressão dos valores propriamente cristãos»(33).
Os filhos,
dom preciosíssimo do matrimônio
14. Segundo o
desígnio de Deus, o matrimônio é o fundamento da mais ampla comunidade da
família, pois que o próprio instituto do matrimônio e o amor conjugal se
ordenam à procriação e educação da prole, na qual encontram a sua coroação(34).
Na sua realidade
mais profunda, o amor é essencialmente dom e o amor conjugal, enquanto conduz
os esposos ao «conhecimento» recíproco que os torna «uma só carne»(35), não se esgota no interior do
próprio casal, já que os habilita para a máxima doação possível, pela qual se
tornam cooperadores com Deus no dom da vida a uma nova pessoa humana. Deste
modo os cônjuges, enquanto se doam entre si, doam para além de si mesmo a
realidade do filho, reflexo vivo do seu amor, sinal permanente da unidade
conjugal e síntese viva e indissociável do ser pai e mãe.
Tornando-se
pais, os esposos recebem de Deus o dom de uma nova responsabilidade. O seu amor
paternal é chamado a tornar-se para os filhos o sinal visível do próprio amor
de Deus, «do qual deriva toda a paternidade no céu e na terra»(36).
Não deve todavia
esquecer-se que, mesmo quando a procriação não é possível, nem por isso a vida
conjugal perde o seu valor. A esterilidade física, de fato, pode ser para os
esposos ocasião de outros serviços importantes à vida da pessoa humana, como
por exemplo a adopção, as várias formas de obras educativas, a ajuda a outras
famílias, às crianças pobres ou deficientes.
A família,
comunhão de pessoas
15.No matrimônio
e na família constitui-se um complexo de relações interpessoais - vida
conjugal, paternidade-maternidade, filiação, fraternidade - mediante as quais
cada pessoa humana é introduzida na «família humana» e na «família de Deus»,
que é a Igreja.
O matrimônio e a
família dos cristãos edificam a Igreja: na família, de fato, a pessoa humana
não só é gerada e progressivamente introduzida, mediante a educação, na
comunidade humana, mas mediante a regeneração do Batismo e a educação na fé, é
introduzida também na família de Deus, que é a Igreja.
A família
humana, desagregada pelo pecado, é reconstituída na sua unidade pela força
redentora da morte e ressurreição de Cristo(37). O matrimônio cristão, partícipe da
eficácia salvífica deste acontecimento, constitui o lugar natural onde se
cumpre a inserção da pessoa humana na grande família da Igreja.
O mandato de
crescer e de multiplicar-se, dirigido desde o princípio ao homem e à mulher,
atinge desta maneira a sua plena verdade e a sua integral realização.
A Igreja
encontra assim na família, nascida do sacramento, o seu berço e o lugar onde
pode actuar a própria inserção nas gerações humanas, e estas, reciprocamente,
na Igreja.
Matrimônio
e virgindade
De modo muito
justo diz S. João Crisóstomo: «Quem condena o matrimônio, priva a virgindade da
sua glória; pelo contrário, quem o louva, torna a virgindade mais admirável e
esplendente. O que parece um bem apenas quando comparado ao mal, não é pois um
grande bem; mas o que é melhor do que aquilo que todos consideram bom, é
certamente um bem em grau superlativo»(38).
Na virgindade o
homem está inclusive corporalmente em atitude de espera, pelas núpcias
escatológicas de Cristo com a Igreja, dando-se integralmente à Igreja na
esperança de que Cristo se lhe doe na plena verdade da vida eterna. A pessoa
virgem antecipa assim na sua carne o mundo novo da ressurreição futura(39).
Por força deste
testemunho, a virgindade mantém viva na Igreja a consciência do mistério do matrimônio
e defende-o de todo o desvio e de todo o empobrecimento.
Tornando livre
de um modo especial o coração humano(40), «de forma a inebriá-lo muito mais
de caridade para com Deus e para com todos os homens»(41), a virgindade testemunha que o Reino
de Deus e a sua justiça são aquela pérola preciosa que é preferida a qualquer
outro valor, mesmo que seja grande, e, mais ainda, é procurada como o único
valor definitivo. É por isso que a Igreja, durante toda a sua história,
defendeu sempre a superioridade deste carisma no confronto com o do matrimônio,
em razão do laço singular que ele tem com o Reino de Deus(42).
Embora tendo
renunciado à fecundidade física, a pessoa virgem torna-se espiritualmente
fecunda, pai e mãe de muitos, cooperando na realização da família segundo o
desígnio de Deus.
Os esposos
cristãos têm portanto o direito de esperar das pessoas virgens o bom exemplo e
o testemunho da fidelidade à sua vocação até à morte. Como para os esposos a
fidelidade se torna às vezes difícil e exige sacrifício, mortificação e
renúncia, também o mesmo pode acontecer às pessoas virgens. A fidelidade
destas, mesmo na provação eventual, deve edificar a fidelidade daqueles(43).
Estas reflexões sobre a virgindade podem
iluminar e ajudar os que, por motivos independentes da sua vontade, não se
puderam casar e depois aceitaram a sua situação em espírito de serviço. Pesquisa
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