24 de julho de 2013
On quarta-feira, julho 24, 2013 by Pe. Lucione Queiroz
Terceira parte... cont.
31. A Igreja está sem dúvida consciente dos
múltiplos e complexos problemas que hoje em muitos países envolvem os cônjuges
no seu dever de transmitir responsavelmente a vida. Reconhece também o grave
problema do incremento demográfico, como se apresenta nas diversas partes do
mundo, e as relativas implicações morais.
Para que o
plano divino se
realize sempre mais plenamente
A Igreja
considera, todavia, que uma reflexão aprofundada de todos os aspectos de tais
problemas ofereça uma nova e mais forte confirmação da importância da doutrina
autêntica sobre a regulação da natalidade, reproposta no Concílio Vaticano II e
na encíclica Humanae Vitae.
Por isto,
juntamente com os Padres Sinodais, sinto o dever de dirigir um urgente convite
aos teólogos a fim de que, unindo as suas forças para colaborar com o
Magistério hierárquico, se empenhem em iluminar cada vez melhor os fundamentos
bíblicos, as motivações éticas e as razões personalísticas desta doutrina. Será
assim possível, no contexto de uma exposição orgânica, tornar a doutrina da
Igreja sobre este tema fundamental verdadeiramente acessível a todos os homens
de boa vontade, favorecendo uma compreensão cada dia mais luminosa e profunda:
desta forma o plano divino poderá ser sempre mais plenamente cumprido para a
salvação do homem e para a glória do Criador.
A tal respeito,
o empenho concorde dos teólogos, inspirado pela adesão convencida ao
Magistério, que é o único guia autêntico do Povo de Deus, apresenta particular
urgência mesmo em razão da visão do homem que a Igreja propõe: dúvidas ou erros
no campo matrimonial ou familiar implicam um grave obscurecer-se da verdade
integral sobre o homem numa situação cultural já tão frequentemente confusa e
contraditória O contributo de iluminação e de investigação, que os teólogos são
chamados a oferecer no cumprimento da sua missão específica, tem um valor
incomparável e representa um serviço singular, altamente meritório, à família e
à humanidade.
Na visão
integral do homem e da sua vocação
32.No contexto
de uma cultura que deforma gravemente ou chega até a perder o verdadeiro
significado da sexualidade humana, porque a desenraíza da sua referência
essencial à pessoa, a Igreja sente como mais urgente e insubstituível a sua
missão de apresentar a sexualidade como valor e tarefa de toda a pessoa criada,
homem e mulher, à imagem de Deus.
Nesta
perspectiva o Concílio Vaticano II afirmou claramente que «quando se trata de
conciliar o amor conjugal com a transmissão responsável da vida, a moralidade
do comportamento não depende apenas da sinceridade da intenção e da apreciação
dos motivos; deve também determinar-se por critérios objectivos, tomados da
natureza da pessoa e dos seus atos; critérios que respeitam, num contexto
de autêntico amor, o sentido da mútua doação e da procriação humana. Tudo isto
só é possível se se cultivar sinceramente a virtude da castidade conjugal»(86).
É exactamente
partindo da «visão integral do homem e da sua vocação, não só natural e
terrena, mas também sobrenatural e eterna»(87), que Paulo VI afirmou que a doutrina
da Igreja «se funda na conexão inseparável, que Deus quis e que o homem não
pode quebrar por sua iniciativa, entre os dois significados do ato conjugal: o
significado unitivo e o significado procriativo»(88). E conclui reafirmando que é de
excluir, como intrinsecamente desonesta, «toda a ação que, ou em previsão do ato
conjugal, ou na sua realização, ou no desenvolvimento das suas consequências
naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar a procriação impossível»(89).
Quando os
cônjuges, mediante o recurso à contracepção, separam estes dois significados
que Deus Criador inscreveu no ser do homem e da mulher e no dinamismo da sua
comunhão sexual, comportam-se como «árbitros» do plano divino e «manipulam» e
aviltam a sexualidade humana, e com ela a própria pessoa e a do cônjuge,
alterando desse modo o valor da doação «total». Assim, à linguagem nativa que
exprime a recíproca doação total dos cônjuges, a contracepção impõe uma
linguagem objectivamente contradictória, a do não doar-se ao outro: deriva
daqui, não somente a recusa positiva de abertura à vida, mas também uma
falsificação da verdade interior do amor conjugal, chamado a doar-se na
totalidade pessoal.
Quando pelo
contrário os cônjuges, mediante o recurso a períodos de infecundidade,
respeitam a conexão indivisível dos significados unitivo e procriativo da
sexualidade humana, comportam-se como «ministros» de plano de Deus e «usufruem»
da sexualidade segundo o dinamismo originário da doação «total», se
manipulações e alterações(90).
À luz da
experiência mesma de tantos casais e dos dados das diversas ciências humanas, a
reflexão teológica pode receber e é chamada a aprofundar a diferença antropológica
e ao mesmo tempo moral, que existe entre a contracepção e o recurso aos
ritmos temporais: trata-se de uma diferença bastante mais vasta e profunda de
quanto habitualmente se possa pensar e que, em última análise, envolve duas
concepções da pessoa e da sexualidade humana irredutíveis entre si. A escolha
dos ritmos naturais, de fato, comporta a aceitação do ritmo biológico da
mulher, e com isto também a aceitação do diálogo, do respeito recíproco, da
responsabilidade comum, do domínio de si. Acolher, depois, o tempo e o diálogo
significa reconhecer o carácter conjuntamente espiritual e corpóreo da comunhão
conjugal, como também viver o amor pessoal na sua exigência de fidelidade.
Neste contexto o casal faz a experiência da comunhão conjugal enriquecida
daqueles valores de ternura e afectividade, que constituem o segredo profundo
da sexualidade humana, mesmo na sua dimensão física. Desta maneira a
sexualidade é respeitada e promovida na sua dimensão verdadeira e plenamente
humana, não sendo nunca «usada» como um «objecto» que, dissolvendo a unidade
pessoal da alma e do corpo, fere a própria criação de Deus na relação mais
íntima entre a natureza e a pessoa.
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