27 de maio de 2015

RECEPÇÃO PASTORAL DA ECLESIOLOGIA DO VATICANO II NA DIOCESE DE SOBRAL


Transcrevemos aqui um texto elaborado por Mons. João Batista Frota onde ele faz uma analise da nova caminhada da Igreja a partir do vaticano II.
Este texto será apresentado em quatro blocos a saber:

1º Bloco - Chuvas benéficas e variadas preparam o terreno;
2º Bloco - Medellin e Puebla trazem a eclesiologia do Vaticano II para a nossa realidade;
3º Bloco - CEBs: novo modo de ser Igreja;
4º Bloco - Frutos que brotaram após as chuvas.

Esta analise que Mons. Frota faz foi publicado na Revista: 
Kairós - Revista Acadêmica da Prainha Ano II/2, Julho/Dez 2005



RECEPÇÃO PASTORAL DA ECLESIOLOGIA DO
VATICANO II NA DIOCESE DE SOBRAL
Pe. João Batista Frota*


I. Chuvas benéficas e variadas preparam o terreno
Até 1959 a Igreja de Sobral era regida pela batuta de Dom José Tupinambá da Frota, que gerou na diocese uma Igreja com feições Tridentinas e Romanas. Era uma igreja clerical, autoritária, sacramentalista e muito marcada pelo devocionismo. Com a morte
de D. José (1959) e a chegada de D. Mota (1960) as coisas vão tomar novo rumo.
Chuvas benéficas e trazidas por ventos de várias direções vinham caindo na Igreja do Ceará; e a partir de 1960 vão atingir a nossa diocese, preparando o terreno para a chegada da eclesiologia do Vaticano II; dentre elas destacamos:

1. Movimento por um Mundo Melhor – Nascido na Itália sob a orientação do Pe. Lombardi e Pe. Rotoni; tinha como mística: novo zelo missionário, construção da fraternidade para levar as pessoas a viverem em estado de graça. Pe. Martins era o grande animador, realizou alguns encontros na nossa diocese.

2. Ação Católica – Preparava lideranças cristãs para atuarem como “fermento” do evangelho nos diferentes e vários campos da sociedade - no meio agrário, estudantil, operário, independente e universitário, sob as siglas: JAC (Juventude Agrária Católica), JEC (Juventude Estudantil Católica), JIC (Juventude independente Católica), JOC (Juventude Operária Católica), JUC (Juventude Universitária Católica). A Ação Católica usava o método: ver, julgar e agir, e mais tarde “celebrar”. Chegou até nós através de Pe. Almeida, Pe. Marconi, Pe. José Linhares Pe. Albani e Pe. Cassiano.

3. MEB Movimento da Educação de Base que seguindo o método de Paulo Freire procurava alfabetizar, partindo da vida do povo e visava também conscientizar os alfabetizandos a se organizarem, formarem grupos.

4. Sindicatos dos Trabalhadores Rurais – O movimento sindical que orientado pelo Pe. Luiz Melo, em convênio com o Governo do Estado, orientava os agricultores sobre seus direitos e deveres e os organizava em sindicatos. Os sindicatos dos Trabalhadores Rurais, sob a inspiração da igreja, cresceram muito nas paróquias da diocese.

5. Movimento do Dia do Senhor – Visava preparar animadores para a celebração do culto, aos domingos, nas comunidades rurais sem padre, O movimento nasce inspirado na Sacrosanctum Concilium – constituição sobre a liturgia, aprovada em 1963. Teve
como idealizador Pe. Luizito Dias e como animadores e orientadores, por muitos anos, Pe. Albani e Valnê. O Dia do Senhor usava o método da Ação Católica e procurava sempre unir fé e vida. Das celebrações dominicais, progressivamente vão nascer pequenas comunidades, que depois se transformaram em Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).

6. Os Circulos bíblicos – Logo após o nascimento do Dia do Senhor (1964), que atuava na zona rural, vão surgir, nos bairros das cidades, os Círculos Bíblicos que, partindo da vida do povo e inspirados pela palavra de Deus, vão procurando solução para os problemas da comunidade. Os Círculos Bíblicos nascem nas paróquias e a partir de 1975 tem uma coordenação diocesana sob orientação de Ir Antonieta, juntamente com Ir. Sofia e Ir. Osvalda. Eles vão ser os geradores das Comunidades Eclesiais nas cidades. Tanto eles quanto o Dia do Senhor, buscando na Bíblia a resposta aos problemas vivenciados pelo povo, vão encontrar em Moisés, na caminhada do povo saindo da escravidão no Egito para a libertação na Terra Prometida e na comunidade dos primeiros cristãos uma grande luz para as suas vidas (At 2,42s). Assim, aos poucos, no campo e na cidade vai nascendo uma nova maneira de ser Igreja – Igreja onde há muita partilha, solidariedade, onde oração e trabalho, comunhão e participação se unem com a preocupação de salvar o homem na sua totalidade, libertando-o de tudo o que o oprime e impede de ter vida plena. É uma Igreja formada de operários, camponeses, gente simples que se sentia valorizada; é a Igreja “povo de Deus”. Nela os padres, os
bispos são servidores do povo. É a Igreja das assembléias, dos conselhos paroquiais e comunitários, dos grupos jovens, das caminhadas. É a Igreja das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que começa a correr fluentemente em todos os recantos da diocese. É uma Igreja profética, que anuncia e denuncia.
A eclesiologia do Vaticano II ia passando para os animadores das celebrações e das reuniões dos Círculos Bíblicos em doses mais fortes nos encontros e seminários e para o povo, em conta gotas, nas celebrações e reuniões semanais realizadas nas casas. Dom
Walfrido, que participara do Concílio e que assumira a Diocese (1965) dá todo apoio a esse trabalho, seja diretamente, seja através das Coordenações de Pastorais reestruturadas a partir de 1974. O clero, na sua maioria, acolhia com entusiasmo esta

eclesiologia. Alguns padres mais idosos se mostravam apáticos e reticentes.