10 de agosto de 2013
On sábado, agosto 10, 2013 by Pe. Lucione Queiroz
cont...
A Igreja
Mestra e Mãe para os cônjuges em dificuldade
33.Também no
campo da moral conjugal a Igreja é e age como Mestra e Mãe.
Como Mestra, ela
não se cansa de proclamar a norma moral que deve guiar a transmissão
responsável da vida. De tal norma a Igreja não é, certamente, nem a autora nem
o juiz. Em obediência à verdade que é Cristo, cuja imagem se reflecte na
natureza e na dignidade da pessoa humana, a Igreja interpreta a norma moral e
propõe-na a todos os homens de boa vontade, sem esconder as suas exigências de
radicalidade e de perfeição.
Como Mãe, a
Igreja está próxima dos muitos casais que se encontram em dificuldade sobre
este importante ponto da vida moral: conhece bem a sua situação, frequentemente
muito árdua e às vezes verdadeiramente atormentada por dificuldades de toda a
espécie, não só individuais mas também sociais; sabe que muitos cônjuges
encontram dificuldades não só para a realização concreta mas também para a
própria compreensão dos valores ínsitos na norma moral.
Mas é a mesma e
única Igreja a ser ao mesmo tempo Mestra e Mãe. Por isso a Igreja nunca se
cansa de convidar e de encorajar para que as eventuais dificuldades conjugais
sejam resolvidas sem nunca falsificar e comprometer a verdade: ela está de fato
convencida de que não pode existir verdadeira contradição entre a lei divina de
transmitir a vida e a de favorecer o autêntico amor conjugal(91). Por isso, a pedagogia concreta da
Igreja deve estar sempre ligada e nunca separada da sua doutrina. Repito,
portanto, com a mesmíssima persuasão do meu Predecessor: «Não diminuir em nada
a doutrina salutar de Cristo é eminente forma de caridade para com as almas»(92).
Por outro lado,
a autêntica pedagogia eclesial revela o seu realismo e a sua sabedoria só
desenvolvendo um empenhamento tenaz e corajoso no criar e sustentar todas
aquelas condições humanas - psicológicas, morais e espirituais - que são
indispensáveis para compreender e viver o valor e a norma moral.
Não há dúvida de
que entre estas condições devem elencar-se a constância e a paciência, a
humildade e a fortaleza de espírito, a filial confiança em Deus e na sua graça,
o recurso frequente à oração e aos sacramentos da Eucaristia e da reconciliação(93). Assim fortalecidos, os cônjuges
cristãos poderão manter viva a consciência do influxo singular que a graça do
sacramento do matrimônio exerce sobre todas as realidades da vida conjugal, e,
portanto, também sobre a sua sexualidade: o dom do Espírito, acolhido e
correspondido pelos cônjuges, ajuda-os a viver a sexualidade humana segundo o
plano de Deus e como sinal do amor unitivo e fecundo de Cristo pela Igreja.
Mas, entre as
condições necessárias, entra também o conhecimento da corporeidade e dos ritmos
de fertilidade. Em tal sentido, é preciso fazer tudo para que um igual
conhecimento se torne acessível a todos os cônjuges, e, antes ainda às jovens,
mediante uma informação e educação clara, oportuna e séria, feita por casais,
médicos e peritos. O conhecimento deve conduzir à educação para o autocontrole:
daqui a absoluta necessidade da virtude da castidade e da permanente educação
para ela. Segundo a visão cristã, a castidade não significa de modo nenhum nem a
recusa nem a falta de estima pela sexualidade humana: ela significa antes a
energia espiritual que sabe defender o amor dos perigos do egoísmo e da
agressividade e sabe voltá-lo para a sua plena realização.
Paulo VI, com
profundo intuito de sabedoria e de amor, não fez outra coisa senão dar voz à
experiência de tantos casais quando na sua encíclica escreveu: «O domínio do
instinto, mediante a razão e a vontade livre, impõe sem dúvida uma ascese para
que as manifestações afectivas da vida conjugal sejam segundo a ordem recta e
particularmente para a observância da continência periódica. Mas esta
disciplina própria da pureza dos esposos, muito longe de prejudicar o amor
conjugal, confere-lhe pelo contrário um mais alto valor humano. Isto exige um
esforço contínuo, mas graças ao seu benéfico influxo, os cônjuges desenvolvem
integralmente a sua personalidade, enriquecendo-se de valores espirituais:
aquela traz à vida familiar frutos de serenidade e de paz e facilita a solução
de outros problemas; favorece a atenção para com o consorte, ajuda os esposos a
superar o egoísmo, inimigo do amor, e aprofunda o sentido da responsabilidade
deles no cumprimento dos seus deveres. Os pais adquirem então a capacidade de
uma influência mais profunda e eficaz na educação dos filhos»(94).
O
itinerário moral dos esposos
34.É sempre
muito importante possuir uma recta concepção da ordem moral, dos seus valores e
das suas normas: a importância aumenta quando se tornam mais numerosas e graves
as dificuldades para as respeitar.
Exactamente
porque revela e propõe o desígnio de Deus Criador, a ordem moral não pode ser
algo de mortificante para o homem e de impessoal; pelo contrário, respondendo
às exigências mais profundas do homem criado por Deus, põe-se ao serviço da sua
plena humanidade, com o amor delicado e vinculante com o qual Deus mesmo
inspira, sustenta e guia cada criatura para a felicidade.
Mas o homem,
chamado a viver responsavelmente o plano sapiente e amoroso de Deus, é um ser
histórico, que se constrói, dia a dia, com numerosas decisões livres: por isso
ele conhece, ama e cumpre o bem moral segundo etapas de crescimento.
Também os
cônjuges, no âmbito da vida moral, são chamados a um contínuo caminhar,
sustentados pelo desejo sincero e operante de conhecer sempre melhor os valores
que a lei divina guarda e promove, pela vontade recta e generosa de os encarnar
nas suas decisões concretas. Eles, porém, não podem ver a lei só como puro
ideal a conseguir no futuro, mas devem considerá-la como um mandato de Cristo
de superar cuidadosamente as dificuldades. Por isso a chamada «lei da
graduação» ou caminho gradual não pode identificar-se com a "graduação da
lei", como se houvesse vários graus e várias formas de preceito na lei
divina para homens em situações diversas. Todos os cônjuges são chamados,
segundo o plano de Deus, à santidade no matrimônio e esta alta vocação realiza-se
na medida em que a pessoa humana está em grau de responder ao mandato divino
com espírito sereno, confiando na graça divina e na vontade própria»(95). Na mesma linha a pedagogia da
Igreja compreende que os cônjuges antes de tudo reconheçam claramente a
doutrina da Humanae Vitae como normativa para o
exercício da sexualidade e sinceramente se empenhem em pôr as condições
necessárias para a observar.
Esta pedagogia,
como sublinhou o Sínodo, compreende toda a vida conjugal. Por isso a obrigação
de transmitir a vida deve integrar-se na missão global da totalidade da vida
cristã, a qual, sem a cruz, não pode chegar à ressurreição. Em semelhante
contexto compreende-se como não se possa suprimir da vida familiar o
sacrifício, mas antes se deva aceitá-lo com o coração para que o amor conjugal
se aprofunde e se torne fonte de alegria íntima.
Este caminho
comum exige reflexão, informação, instrução idónea dos sacerdotes, dos
religiosos e dos leigos que estão empenhados na pastoral familiar: todos eles
poderão ajudar os cônjuges no itinerário humano e espiritual que comporta em si
a consciência do pecado, o sincero empenho de observar a lei moral, o
ministério da reconciliação. Deve também ser recordado como na intimidade
conjugal estão implicadas as vontades das duas pessoas, chamadas a uma harmonia
de mentalidade e comportamento: isto exige não pouca paciência, simpatia e
tempo. De singular importância neste campo é a unidade dos juízos morais e
pastorais dos sacerdotes: tal unidade deve cuidadosamente ser procurada e
assegurada, para que os fiéis não tenham que sofrer problemas de consciência(96).
O caminho dos
cônjuges será portanto facilitado se, na estima da doutrina da Igreja e na
confiança na graça de Cristo, ajudados e acompanhados pelos pastores e pela
inteira comunidade eclesial, descobrirem e experimentarem o valor da libertação
e da promoção do amor autêntico, que o Evangelho oferece e o mandamento do
Senhor propõe.
Suscitar
convicções e oferecer uma ajuda concreta
35.Diante do
problema de uma honesta regulação da natalidade, a comunidade eclesial, no
tempo presente, deve assumir como seu dever suscitar convicções e oferecer uma
ajuda concreta a quantos quiserem viver a paternidade e a maternidade de modo
verdadeiramente responsável.
Neste campo,
enquanto se congratula com os resultados conseguidos pelas investigações científicas
de um conhecimento mais preciso dos ritmos de fertilidade feminina e estimula
uma mais decisiva e ampla extensão de tais estudos, a Igreja cristã não pode
não solicitar com renovado vigor a responsabilidade de quantos - médicos,
peritos, conselheiros conjugais, educadores, casais - podem efectivamente
ajudar os cônjuges a viver o seu amor com respeito pela estrutura e pelas
finalidades do ato conjugal que o exprime. Isto quer dizer um empenho mais
vasto, decisivo e sistemático, para fazer conhecer, apreciar e aplicar os
métodos naturais de regulação da fertilidade(97).
Um testemunho
precioso pode e deve ser dado por aqueles esposos que, mediante o comum empenho
na continência periódica, chegaram a uma responsabilidade pessoal mais madura
em relação ao amor e à vida. Como escrevia Paulo VI: «a esses confia o Senhor a
tarefa de fazer visível aos homens a santidade e a suavidade da lei que une o
amor mútuo dos esposos e a cooperação deles com o amor de Deus autor da vida
humana»(98).